Pular para o conteúdo principal

Família balsense

Com o tema família em discussão há necessidade de quem tem uma salvá-la antes que acabe.
Quem teve o privilégio de nascer em uma família baseada nos moldes da que estávamos acostumados a ver, tem o dever de preservar a lembrança, sob pena de perder os vínculos proporcionados por ela, exatamente pelas imposições das novidades que ora se apresentam como parâmetro familiar.
Em Balsas, família era a pedra fundamental da formação do município. Acredito que em outros municípios seria da mesma forma. 
Quando se conhecia alguém pela primeira vez, tínhamos o costume de perguntar: 
- De que família você é? Você é filho de quem? (linguagem empregada na época)
O cartão de crédito do balsense era exatamente o laço que o vinculava a uma família. Hoje isso está acabando. Se é bom ou ruim, não é o caso agora discutir.
Famílias tradicionais, outras nem tanto. O importante é que o balsense não era um indivíduo isolado; ele era alguém dentro de um clã. E não estava nem um pouco preocupado com isso. Ele fazia questão de dizer:
- Sou da família Bucar, Coelho, Queiroz, Moreira, Pereira, Silva, Santos, Fonseca, Martins, Ferreira, Alencar, Barros, Félix, Barbosa, Rocha, Rego, Cury, Miranda, Cardoso, Botelho, Barreira, etc.
Alguns vezes, ao nos dirigir a alguém que provavelmente não nos conhecia, éramos logo cobrados a debulhar o Terço familiar e, no final, ainda tínhamos que ouvir o complemento para o Rosário:
- Sou filho do Antonio Carlos, da Luzia Bucar.
- Seu Antonio Carlos, sobrinho da Ritinha Pereira? Irmão do Zé Pé-de-Lecho? Ele é parente do Moisés Coelho também, não é? Marido da dona Luzia, irmã do seu Dué? Seu Dué, filho da dona Esmeralda, mulher do seu Felipe Bucar?
- É isso mesmo.
Depois disso tudo, recebia a confirmação:
- Ah! Muito bem! O que é mesmo que tu quer, menino?
Era a senha para você conquistar o paraíso em Balsas.
A minha família sobreviveu em minha memória e os que sobraram dela estão estampados nas fotografias abaixo onde a matrona Luzia Bucar pousa alegremente com os filhos Carlito, Kaaled, Fernanda, Haroldo e Lucio.
 Na foto seguinte a mesma alegria quando rodeada pelos netos Larissa, Stefani, Juscilynne, Elen, Renam, yuri, Saulo Hermman, Laís, João, Kaila e Karla Natalinne; e, na última, pode-se notar uma certa "cara de quem não gostou", pois está cercada de noras Sandra, Cessa, Juscélia e Lélia (faltou o genro Marcelo).



Comentários

Quem é você? sou o filho da Dona Ana, neto da Dona Carlota, sobrinho do Ditão, do Saturnino, do Daniel, do Quincas, do José Bernado e do tio Clarindo. O Ditão é aquele que joga no time do Guarani.
Passe livre para a amizade e atenção.
A minha aprovação de pessoa aceita como de bem, estava presa a suas identidades.
Alguns estão do outro lado da vida, mando lhes um forte abraço.
Parabéns, Osvaldo, você mostrou que é mesmo uma balsense. Grande abraço.

Postagens mais visitadas deste blog

Rua José Paulino

Em São Paulo, no bairro do Bom Retiro, entre as estações Júlio Prestes e Luz, fica a famosa rua José Paulino. A rua José Paulino é um centro comercial de grande importância e também um consultório terapêutico a céu aberto. As mulheres quando se encontram deprimidas, angustiadas, com problema no trabalho, no lar, com marido, filhos, gordura e aparência, encontram na rua Zé Paulino uma terapia de efeitos imediatos. A rua José Paulino é mais conhecida como “Zé Paulino”, o paraíso das roupas. É um sobe e desce de mulheres de todos os tipos: bonitas, feias, altas, gordas, anoréxicas, asiáticas, negras, brancas, índias (bolivianas), enfim, todas elas se encontram por lá.  Mas não seria um desencontro?  No interior das muitas lojas, uma toma da outra a roupa que afirma ter visto primeiro; outra fala que a peça de roupa que a fulana segura na mão já havia sido separada pra ela; outra ainda mais aponta defeito na roupa que se encontra com a amiga e, quando esta larga a peça, sonh...

A Sabedoria da Minha Avó

             Na minha terra as questões são resolvidas de uma forma bem simples, como são as pessoas de lá, porém, não sem antes fazer com que o camarada possa tirar delas as suas próprias conclusões.          E eu digo isso por um pequeno motivo: certa vez, em minha casa, na horinha do almoço, todos nós sentados nos bancos de madeira que ladeavam aquela mesa comprida, meu pai Antonio Carlos, minha mãe Luzia Bucar, minha avó Esmeralda Bucar, meus irmãos Kaaled, Fernanda, Haroldo, Lúcio e eu, esperando para que a comida fosse exposta à mesa em travessas enormes. O calor era tão grande que os homens geralmente sentavam à mesa sem camisa, vestindo apenas calção e calçados com chinelo de dedo.          Pelo menos eu já estava com bastante fome e, só pra lembrar, a comida do povo do sul do Maranhão é baseado principalmente no arroz, bastante arroz; a fava ou o feijãozinho vermel...

O Carteiro e o Defunto

Em 2 de novembro comemora-se o dia de finados. Percebe-se claramente a contribuição dada pelos antigos cristãos para a formação de novas palavras em um determinado idioma. No nosso caso, o velho Português. Neologismo lexicografado já é indício de que a palavra pode e deve ser utilizada.  Fiz um arrodeio para dizer que a palavra finados vem de fim.  Fim mesmo, visto que os cristãos acreditam em Deus até o momento da morte. Depois disso.....bom, o resto é dúvida. O mais provável, para a maioria dessas pessoas, é que seja realmente o fim. Nos dias de finados lembro-me de Balsas. Nessas lembranças me vem à cabeça os mortos que deixei por lá, enterrados no Cemitério da avenida Catulo, conhecida antigamente pelo apelido de praça dos três “C”, visto concentrar naquela área, em convivência pacífica e ordeira, cabaré, cadeia e cemitério. Diziam que o camarada aprontava no cabaré e logo seria preso pelo Soldado Ribamar Kikiki. Depois de morrer de fome na cadeia o corpo seria...