Hoje é o dia
do Circo e do artista circense e cada um de nós tem algo a falar sobre o circo.
Em se falando
em Circo fatalmente me veio a lembrança de Balsas, cidade do sul do Maranhão,
distante da capital em quase 900 km. A estrada era a Transamazônica, BR 230,
construída no governo dos militares. No povoado Orosimbo pegava-se a esquerda e
seguia por rodovia estadual até chegar a São Luis. Antes da construção da
Transamazônica, não havia estrada, eram
caminhos por onde os carros se aventuravam até chegar àquele ponto esquecido do
estado do Maranhão. E o que isso tem a ver com o circo? Tudo. Apesar das
enormes dificuldades de transporte por lá chegavam circos para animar a
população tão ávida de novidades. Hoje eu fico imaginando o sacrifício que esse
aventureiros enfrentavam para chegar aonde eu estava. Só para me mostrarem o
circo. Eu e os outros moleques da cidade. Só para que se tenha uma idéia de
Balsas a Mangabeiras são aproximadamente 86 km e quando chovia gastava-se até
11 horas para percorrer esse trecho. E o circo chegava.
Lembro-me
muito bem do Gran Bartollo Circo, majestoso prédio de lona, instalado bem no
meio da praça Gonçalves Dias, mais conhecida como praça da prefeitura. Carros
enormes e pintados de forma diferente das que nós conhecíamos, animais, anões e
as mulheres bonitas que faziam malabares diante dos palhaços que em altas
pernas de pau faziam a chamada do primeiro espetáculo através de um megafone e
em altos berros diziam:
- Hoje tem
espetáculo.
E nós acompanhando
gritávamos:
- Tem sim,
senhor.
Era uma festa
só. A cidade só falava em circo. Cada pessoa enaltecia aquilo que mais chamava
sua atenção. Eu gostava mesmo dos palhaços. Dava cada gargalhada que ficava com
dor de barriga.
O problema
era na hora de entrar. Cadê o dinheiro para pagar? Os filhos das pessoas mais aquinhoadas entravam
pelo portão principal com toda elegância do mundo e nós, filhos de pobres
ficávamos andando ao redor do circo só esperando um "vacilo" dos vigilantes para "darmos o bote" entrando por baixo da lona. O nome que se dava para essa peripécia
era “varar o circo”. Era só o vigilante "dar bobeira"....varava um, dois, três,
até que alguém fosse pego. E aí era o maior vexame! O pior mesmo é quando o garoto
já estava sentado no “galinheiro” que eram as arquibancadas das pessoas
que pagavam ingresso mais barato, e de lá era retirado à força e o pior: fazia parte do espetáculo. Todos ali olhavam a cena. Quem
queria ver tudo de perto pagava ingresso para as cadeiras. Nós não estávamos lá
para brincadeira; queríamos mesmo era entrar no circo. Alguns meninos ficavam
de um lado chamando a atenção dos “bate-paus”, como eram chamados os vigias,
enquanto outros conseguiam entrar por outro lado.
Depois de haver conquistado o "merecido lugar", os olhos
brilhavam diante de tanta novidade. Cada garoto curtia à sua maneira o espetáculo. Os
adultos riam como crianças. Era o circo em Balsas. Enfim, o progresso chegava
lá através do circo.
Hoje, tenho
saudade dos grandes e pequenos circos que passaram por Balsas e por vezes me
pego sem querer a responder o chamado que o palhaço fazia: - “tem sim, senhor”.
Viva o circo,
viva o artista circense, viva a alegria.
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