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O "Não" de Eloá


Só hoje recebi um email de um amigo mandando o conteúdo do texto abaixo que após ler fiquei matutando se deveria ou não publicar no Blog. Pensei sobre todas as consequencias, porém a que mais me tocou foi a de não ter podido oferecer às outras pessoas a possibilidade de conhecer sobre o belo texto que apenas transcrevo, pois sei que não teria capacidade para realizar uma análise tão séria e profunda como no caso da garota Eloá. Confesso sequer ter conferido a autenticidade, porém, pela riqueza da análise me dei esse luxo e essa permissividade. Reflitamos sobre o texto abaixo e procuremos contextualizar com a nossa realidade.

"O NÃO DE ELOÁ"

ARTIGO PUBLICADO NO JB, DA DRª MARIA ISABEL,  PROFESSORA DE PSICOLOGIA, QUE DENOMINEI DE "O NÃO DE ELOÁ".
VALE  A PENA LER... 
Isabel Alves - Centro de Apoio e Defesa da  Cidadania-RJ 

UM ALERTA PARA OS PAIS!!! Criando um  Monstro. 
O que pode criar um monstro?
O que leva um rapaz de  22 anos a estragar a própria vida e a vida de outras duas jovens  por... Nada? Será que é índole? 
Talvez, a mídia? A influência da  televisão? A situação social da violência? Traumas? Raiva  contida? Deficiência social ou mental? Permissividade da sociedade?
O que faz alguém achar que pode comprar armas de  fogo, entrar na casa de uma família, fazer reféns, assustar e  desalojar vizinhos, ocupar a polícia por mais de 100 horas e  atirar em duas pessoas inocentes?
O rapaz deu a resposta: 'ela  não quis falar comigo'.
A garota disse não, não quero mais falar  com você. E o garoto, dizendo que ama, não aceitou um não.  
Seu desejo era mais importante. Não quero ser mais um desses  psicólogos de araque que infestam os programas vespertinos de  televisão, que explicam tudo de maneira muito simplista e falam descontextualizadamente sobre a vida dos outros sem serem  chamados.

Mas ontem, enquanto não conseguia dormir pensando nesse  absurdo todo, pensei que o nãoda menina Eloá foi o único.  Faltaram muitos outros nãos nessa história toda.
Faltou um pai e  uma mãe dizerem que a filha de 12 anos NÃO podia namorar um rapaz  de 19.
Faltou uma outra mãe dizer que NÃO iria sucumbir ao medo e  ir lá tirar o filho do tal apartamento a puxões de orelha.
Faltaram outros pais dizerem que NÃO iriam atender ao pedido de um  policial maluco de deixar a filha voltar para o cativeiro  de onde, com sorte, já tinha escapado com vida.
Faltou a polícia  dizer NÃO ao próprio planejamento errôneo de mandar a garota de  volta pra lá.
Faltou o governo dizer NÃO ao sensacionalismo da  imprensa em torno do caso, que permitiu que o tal sequestrador  converssasse e chorasse compulsivamente em todos os programas de  TV que o procuraram.
Simples assim. NÃO.
Pelo jeito, a única que  disse não nessa história foi punida com uma bala na cabeça.  
O mundo está carente de nãos.

Vejo que cada vez mais os pais e professores morrem de medo de dizer não às crianças.
Mulheres ainda têm medo de dizer não aos maridos ( e alguns maridos, temem  dizer não às esposas ).
Pessoas têm medo de dizer não aos amigos.
Noras que não conseguem dizer não às sogras.
Chefes que não  dizem não aos subordinados.
Gente que não consegue dizer não aos  próprios desejos.
E assim são criados alguns  monstros.
Talvez alguns não cheguem a sequestrar pessoas. Mas têm  pequenos surtos quando escutam um não, seja do guarda de  trânsito, do chefe, do professor, da namorada, do gerente do  banco.
Essas pessoas acabam crendo que abusar é normal. E é  legal.

Os pais dizem, 'não posso traumatizar meu filho'. E não  é raro eu ver alguns tomando tapas de bebês com 1 ou 2 anos.  Outros gastam o que não têm em brinquedos todos os dias e festas  de aniversário faraônicas para suas crias. Sem falar nos  adolescentes.
Hoje em dia, é difícil ouvir alguém dizer:

- Não, você  não pode bater no seu amiguinho.
   Não, você não vai assistir a uma  novela feita para adultos. 
   Não, você não vai fumar maconha enquanto for contra a lei.
   Não, você não vai passar a  madrugada na rua.
   Não, você não vai dirigir sem carteira de  habilitação.
   Não, você não vai beber uma cervejinha enquanto não  fizer 18 anos.
   Não, essas pessoas não são companhias pra você.  
   Não, hoje você não vai ganhar brinquedo ou comer salgadinho e  chocolate.
   Não, aqui não é lugar para você ficar.
   Não, você não  vai faltar na escola sem estar doente.
   Não, essa conversa não é  pra você se meter.
   Não, com isto você não vai brincar.
   Não, hoje  você está de castigo e não vai brincar no parque.

Crianças  e adolescentes que crescem sem ouvir bons, justos e firmes NÃOS  crescem sem saber que o mundo não é só deles. E aí, no primeiro não que a vida dá ( e a vida dá muitos ) surtam. Usam drogas. Compram armas. Batem em professores. Furam  o pneu do carro do chefe. Chutam mendigos e prostitutas na rua. E  daí por diante.
Não estou defendendo a volta da educação rígida e  sem diálogo, pelo contrário. Acredito piamente que crianças e  adolescentes tratados com um amor real, sem culpa, tranquilo  e livre, conseguem perfeitamente entender uma sanção do pai ou da  mãe, um tapa, um castigo, um não.
Intuem que o amor dos adultos  pelas crianças não é só prazer - é também responsabilidade.
E quem ouve uns nãos de vez em quando, também aprende a dizê-los  quando é preciso.
Acaba aprendendo que é importante dizer não a algumas pessoas que tentam abusar de nós de diversas maneiras,  com respeito e firmeza, mesmo que sejam pessoas que nos amem.  
O não protege, ensina e prepara.
Por mais que seja difícil, eu  tento dizer não aos seres humanos que cruzam o meu caminho quando  acredito que é hora - e tento respeitar também os nãos que  recebo. Nem sempre consigo, mas tento.
Acredito que é aí que está a verdadeira prova de amor.
E é também aí que está a solução para  a violência cada vez mais desmedida e absurda dos  nossos dias. 




O meu muito obrigado a Paiacan.


Comentários

Leo Fernandes disse…
Belo texto!

"Não se intimides em dizer não para os excessos de querer dos filhos para que mais tarde não te seja privado do mínimo".

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