Fico observando as
notícias sobre violência e cada vez mais me convenço de que lugar tranqüilo mesmo
era Balsas-MA, até o início dos anos 80.
Calma! Você também
pode ter o seu lugar tranqüilo. O meu era o balsinha de açúcar.
Quem viveu do início
dos anos 80 às décadas mais remotas, há de concordar comigo sobre essa conclusão.
Naquela época, pelo
menos a que me lembro, existia em Balsas uma pequena delegacia de polícia, cujo
cargo de delegado era exercido por um sargento da gloriosa Polícia Militar do
Estado do Maranhão. O Sargento João foi o primeiro de que me lembro e o segundo
e muito mais atuante era o Sargento Soares.
Auxiliando o
delegado nas tarefas, um pequeno efetivo de Soldados, dentre os quais se
destacava o Soldado Ribamar, oriundo da antiga Guarda Municipal, bastante conhecido do povo balsense,
principalmente pelo jeito peculiar de agir quando alguém era preso na Cadeia Pública.
Era o Soldado "quiquiqui". Não estranhe. Soldado de Polícia, Ribamar era mais conhecido mesmo
por um pequeno defeito que se tornava grande na hora em que ele falava. Era gago e
sempre iniciava uma conversa com o bordão:
- Qui, qui, qui.....
Bom, o povo "du" Balsas
não perdoa: mata. Mata de vergonha o camarada quando confere a ele um título por
vezes constrangedor. O certo mesmo é que os balsenses conheciam o Soldado Ribamar Quiquiqui.
Quiquiqui era o elemento que cobria a retaguarda do pequeno efetivo dda polícia militar quando
conduzia alguém preso ao xadrez da cadeia conhecida por São Damião. Cobria a retaguarda afastando
as crianças e os curiosos que, em procissão, acompanhavam o evento até chegar à
delegacia.
Hoje, quando perco
meu tempo ao assistir o Datena, com toda aquela enrolação possível ao narrar
um fato interminável, me faz lembrar as vezes que acompanhei aquelas procissões formadas quando algum infrator era levado ao xadrez. Acompanhava com certa dificuldade,
exatamente pelo trabalho eficiente do Soldado Quiquiqui, que, andando de costas
por todo o trajeto entre o fato e a cadeia, afastava a meninada, estendendo os
braços, dizendo:
- "Me-menino, va-vai
pra casa. I-i-isso não é coisa pra me-me-menino ver não. Sai, sai daqui".
Ribamar tinha razão!
Na realidade, não era ele apenas um policial; era, por excelência, um
educador. Desejava mais a tranqüilidade do lar à violência das ruas.
Hoje, talvez se o
Soldado Quiquiqui ainda estivesse na ativa, com certeza estaria batendo na
porta de cada casa falando com seu modo peculiar de dizer:
- "Me-me-menino,
desliga e-e-essa televisão aí. Vai.... pra rua brincar com os-os.... amigos,
que-que... é bem melhor do que essa po-porcaria".
Neste humilde texto expresso publicamente o meu mais profundo respeito ao nosso Soldado Ribamar que fez da farda um jaleco de professor.
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