Pular para o conteúdo principal

O Presídio de Pedrinhas

Quando criança, estudante do Grupo Escolar Professor Luiz Rego, na velha cidade de Balsas, Estado do Maranhão, ouvi pela primeira vez o Hino do meu Estado.
Foi uma sensação incrível poder ouvir, mesmo sem entender direito, a estrofe que dizia: "Maranhão, Maranhão, berço de heróis".
Essa parte ficava ecoando nos meus ouvidos, mesmo depois de muito tempo. E ecoou mais ainda devido aos questionamentos que fazia, a despeito da idade juvenil, sobre quem eram esses heróis que o hino tanto exaltava. Lia tudo que dizia respeito ao Estado do Maranhão e confesso que não havia encontrado ainda esses heróis. 
Só agora, depois de quarenta anos ausente do Maranhão, pude realmente desvendar esse mistério sobre esses bravos heróis tão decantados no hino do meu Estado natal! 
Sabe quem são eles? O povo maranhense. 
É exatamente isso! O mesmo povo que vota, confirma, reafirma e admira a família do senhor José de Ribamar Ferreira de Araújo Costa, o Zé Sarney, como o maranhense tem o costume de chamá-lo. Chamam-no, e o que é pior, ele comparece a cada período eleitoral e depois...tchau. Some novamente.
Nunca vi tanto herói junto. Só no Maranhão. 
Esse povo unido, jamais será vencido.... pelo cansaço em votar nessa famigerada família Sarney. 
Sarney é nosso Rei (dos maranhenses de lá - eu já me libertei desse castigo), diz o povo, ovacionando o bigode mais famoso daquelas paragens.
Hoje, a revolta no presídio de Pedrinhas escancara para o mundo as carnes apodrecidas do velho Estado de Jerônimo de Albuquerque, o Sarney português, o mesmo que tomou das mãos de Daniel de La Touche o sonho da "liberté, égualité et fraternité" e que fez do povo maranhense, debilmente "macunaimizado" pelo heroísmo, fiéis socós engolindo muçuns, depois de havê-los defecado.
Pedrinhas representam o sofrimento de hoje como resultado de ontem e podem, mais tarde, quem sabe, quando esse povo deixar de lado o heroísmo bucólico de bigode, servir para calçarem as ruas e vielas dos Lavas-Caras, Potosís e Trizidelas do Velho Maranhão, berço de heróis desconhecidos.
Quem sabe assim, a alma de La Touche descanse em paz.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Soldado Ribamar Quiquiqui

Fico observando as notícias sobre violência e cada vez mais me convenço de que lugar tranqüilo mesmo era Balsas-MA, até o início dos anos 80. Calma! Você também pode ter o seu lugar tranqüilo. O meu era o balsinha de açúcar. Quem viveu do início dos anos 80 às décadas mais remotas, há de concordar comigo sobre essa conclusão. Naquela época, pelo menos a que me lembro, existia em Balsas uma pequena delegacia de polícia, cujo cargo de delegado era exercido por um sargento da gloriosa Polícia Militar do Estado do Maranhão. O Sargento João foi o primeiro de que me lembro e o segundo e muito mais atuante era o Sargento Soares. Auxiliando o delegado nas tarefas, um pequeno efetivo de Soldados, dentre os quais se destacava o Soldado Ribamar, oriundo da antiga Guarda Municipal, bastante conhecido do povo balsense, principalmente pelo jeito peculiar de agir quando alguém era preso na Cadeia Pública. Era o Soldado "quiquiqui". Não estranhe. Soldado de Polícia, Ribamar era ma

O Carteiro e o Defunto - republicação

Em 2 de novembro comemora-se o dia de finados. Percebe-se claramente a contribuição dada pelos antigos cristãos para a formação de novas palavras em um determinado idioma. No nosso caso, o velho Português. Neologismo lexicografado já é indício de que a palavra pode e deve ser utilizada.  Fiz um arrodeio para dizer que a palavra finados vem de fim.  Fim mesmo, visto que os cristãos acreditam em Deus até o momento da morte. Depois disso.....bom, o resto é dúvida. O mais provável, para a maioria dessas pessoas, é que seja realmente o fim. Nos dias de finados lembro-me de Balsas. Nessas lembranças me vem à cabeça os mortos que deixei por lá, enterrados no Cemitério da avenida Catulo, conhecida antigamente pelo apelido de praça dos três “C”, visto concentrar naquela área, em convivência pacífica e ordeira, cabaré, cadeia e cemitério. Diziam que o camarada aprontava no cabaré e logo seria preso pelo Soldado Ribamar Kikiki. Depois de morrer de fome na cadeia o corpo seria levado a

Cracolândia

   Cracolandia! Você já ouviu falar nessa palavra, que em princípio pode até soar bem no ouvido de alguns que colocam o nome de seus filhos como Maurilândia, Orlândia? Já ouviu falar em algum nome assim? Eu ouvi. Afinal, sou nordestino!    Pois é, esse maldito nome vem da junção de “crack” , que não é o caso do atleta acima do normal, não, é a droga mesmo, aquela produzida com a mistura da pior parte da cocaína com bicarbonato de sódio e do sufixo “landia”, que quer dizer cidade, portanto, o significado será “cidade do crack”. Tem coisa pior do que isso? Pois bem esse lugar existe e fica aqui no centro da bela cidade que encanta e desencanta a todos nós: SAMPA. Sabe onde fica Sampa? Caetano Veloso sabe! Pergunte a ele. No cruzamento da São João com a Ipiranga é só seguir o rumo que quiser que você verá a cena mais horripilante que se pode imaginar. Nem Virgílio levaria Dante a lugar de tamanho horror. Acredito que as drogas produzidas na Velha Bota de 1300 d. c. não produziriam ta